É desolador observarmos que, em vários momentos, as plantas são mais bem cuidadas que muitos trabalhadores das nossas empresas. Desde o advento da revolução industrial, assistimos a um drama de severas conseqüências em que a ruptura entre trabalho e cuidado tem-sedemonstrado um fator de desequilíbrio e destruição.
A natureza deixou de ser a grande fonte de aprendizado e inspiração e passou a ser vista apenas como recurso a ser dominado e explorado, enquanto a máquina, símbolo da era industrial, passou a ser o novo parâmetro de comparação. As patologias oriundas desse novo modelo podem ser percebidas até mesmo na linguagem cotidiana: “Caiu a ficha”, “fulano de tal é um computador” … Essas são apenas algumas expressões que reforçam a tese de que fomos submetidos à lógica da máquina como modelo a ser seguido.
Aqui não vai nenhuma crítica às máquinas como instrumentos de melhoria da vida humana, mas sim à ditadura desse novo modo-de-ser, que nos “obriga” a agir como máquinas, desprezando aquilo que temos de melhor: a nossa humanidade.
Constantemente vemos as pessoas falarem que a máquina está substituindo o homem nas unidades de trabalho.Aqui cabe a reflexão proposta por Domênico Demasi, quando afirma que isso não é verdade.Segundo o sociólogo, na realidade, a máquina só está ocupando o espaço que já deveria ser dela, cabendo ao homem encontrar o seu verdadeiro papel.
Não é da essência humana agir pura e simplesmente de forma mecânica e reprodutora. Ao homem cabe ousar, resgatar o seu espaço sagrado onde possa orientar o seu coração para aprender e interagir com a vida de forma construtiva, dando um novo significado para cada experiência vivida.
O grande poeta Fernando Pessoa já disse que existem apenas duas formas de olharmos para a vida. A primeira é sob a ótica do senso comum, visão superficial de mundo que tem na massificação o seu principal valor. A segunda é sob a ótica da poesia, postura de contemplação que traz na simplicidade e na profundidade do olhar a percepção da singularidade de cada obra da criação divina.
Diante dessa visão, o jardineiro representa a melhor metáfora para designar o perfil do novo profissional, pois o bom jardineiro é, acima de tudo, um amante da planta. É aquele que cuida da planta com suas próprias mãos, preparando o solo, retirando as ervas daninhas, efetuando a poda e provendo os nutrientes necessários para que ela cresça viscosa e desperte toda a beleza que lhe é particular, entendendo que cada planta é única e traz com essa unicidade qualidades e cuidados que lhe são peculiares.
O jardineiro, portanto, resgata o estado primordial, em que empatia e trabalho andam de mãos dadas, como símbolo de construção, porém, sem perder a graça e a leveza, elementos necessários para um mundo tão árido e repleto de desafios.