Recentemente, participando de um debate sobre ética e cidadania, ouvi alguém fazer a seguinte reflexão: Que mundo estamos deixando para os nossos filhos? Nesse artigo, gostaria explorar melhor as sutilezas presentes nessa pergunta e ampliar os nossos horizontes acerca das possibilidades existentes.
No fundo, por trás desse questionamento aparentemente interessado e bem intencionado, existe uma postura megalomaníaca e temerosa perante a vida, pois ficamos tão preocupados com as incertezas e indeterminações do futuro, que acabamos nos colocando em uma posição de passividade por nos sentirmos impotentes perante o tamanho do desafio que nos é imposto.
A perversão dessa pergunta, é que ela distorce a ordem natural das coisas.
Quando olhamos para o mundo e todas as suas mazelas, nos sentimos incapazes e sem poder para transformar a realidade existente, assim sendo, acabamos assumindo a postura “bem intencionada” de intelectual crítico, passando apenas a culpar a tudo e a todos pelas desventuras do mundo, e abrindo mão do poder transformador da ação.
Em contraponto a ela, trago uma outra reflexão, que acredito ser mais integradora e compatível com o ritmo natural da vida: Que filhos estamos deixando para o nosso mundo? Esta pergunta difere da anterior na perspectiva que nos coloca como sujeitos capazes de transformar a realidade a partir das pequenas ações do dia a dia. É através da vivência do amor e do exemplo diário, que podemos transformar o nosso mundo e não o contrário.
O processo de educação dos filhos ocorre através do exercício do cuidado, virtude que cria condições para relações dialógicas e livres para amar, conhecer e compreender a si e ao outro, reconhecendo o ritmo e a individualidade de cada um. Como diz Erich Fromm: O cuidado é preliminar ao amor!